sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A estrela da manhã

Eu quero a estrela da manhã/Onde está a estrela da manhã?/Meus amigos meus inimigos/Procurem a estrela da manhã/Ela desapareceu ia nua/Desapareceu com quem?/Procurem por toda a parte/Digam que sou um homem sem orgulho/Um homem que aceita tudo/Que me importa? Eu quero a estrela da manhã... Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas/comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples/Que tu desfalecerás/Procurem por toda parte/Pura ou degradada até a última baixeza/Eu quero a estrela da manhã”( A estrela da Manhã- Manuel Bandeira).

Nessa noite perdi o sono bem no final da noite e no começo do dia que nascia. “Nova aurora a cada dia”. E lá estava a estrela da manhã, estrela d'alva, a última estrela que ainda permanecia acordada. Vênus a estrela da manhã que lembra a deusa do amor na mitologia romana. Descrita por Camões em Os Lusíadas como uma divindade que apóia os portugueses em suas navegações:
“Os crespos fios d'ouro se esparziam/Pelo colo, que a neve escurecia;/Andando, as lácteas tetas lhe tremiam,/Com quem Amor brincava, e não se via;/Da alva petrina flamas lhe saíam,/Onde o Menino as almas acendia;/Pelas lisas colunas lhe trepavam/Desejos, que como hera se enrolavam...”
Antes de dormir li o diário da encantadora e fiquei perturbada com as palavras da moça que não mora mais aqui: “Eu sou de livrarias. Freqüento-as todas da cidade. Vou a Livraria francesa da Barão de Itapetininga depois que saio do meu curso de teatro.Como eu queria que você me encontrasse numa delas, eu com um livro de Drummond numa das mãos e você com aquele sorriso que só eu sei e segurando um buquê de margaridas pra me dar.Muitas vezes quando você vê uma estrela brilhando no céu, ás vezes ela nem existe mais...quando você vier me encontrar procure meu nome nas pedras da calçada.Eu vou deixar pistas de mim por muitas ruas da cidade...de repente a vida pode ser uma viagem, o mundo todo cabe no meu coração...vem pra mim que eu estou te esperando!”
Hoje enquanto escrevo estas palavras, minhas e dos meus amados poetas, chove em São Paulo e quando chove em São Paulo, São Paulo é ainda mais São Paulo...

“ Há de surgir uma estrela no céu cada vez que ocê sorrir....Há de apagar uma estrela no céu cada vez que ocê chorar...o contrário também bem que pode acontecer...de uma estrela brilhar quando a lágrima cair...Ou então de uma estrela cadente se jogar só pra ver a flor do seu sorriso se abrir”

“Quando saia de casa/ percebeu que a chuva soletrava/ uma palavra sem nexo/na pedra da calçada./Não percebeu/que percebia/que a chuva que chovia/não chovia/na rua por onde andava./Era a chuva que trazia de dentro de sua casa;/era a chuva que molhava/o seu silêncio molhado/na pedra que carregava./Um silêncio feito mina,/explosivo sem palavra,/quase um fio de conversa/no seu nexo de rotina/em cada esquina/que dobrava./Fora de casa,/seco na calçada,/percebeu que percebia/no auge de sua raiva/que a chuva não mais chovia/nas águas que imaginava....” (Mário Chamie- Chuva interior)

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